A Capsulite Adesiva é uma doença caracterizada pela dor no ombro, especialmente a noite e perda progressiva da movimentação, sendo que ocorre mais frequentemente em mulheres.

A faixa etária mais acometida é dos 40 aos 60 anos de idade.  A capsulite ocorre por fatores genéticos e metabólicos, mal compreendidos atualmente.  É mais comum em diabéticos e pacientes com alterações do funcionamento da tireoide. Mas, felizmente é uma doença autolimitada, isto é, têm cura mesmo sem tratamento.

A capsulite adesiva, ou também conhecida como ombro congelado, ocorre por uma inflamação na cápsula articular do ombro, seguida por um enrijecimento da mesma com limitação dos movimentos do ombro. Sua identificação na CID10 é M75.0.

capsulite adesiva

 

Na imagem de uma artroscopia abaixo é visível como a inflamação tomou conta na cápsula articular do ombro, repare no ombro normal a esquerda e no ombro inflamado com capsulite adesiva na direita.

 Capsulite Adesiva comparando ombro normal de ombro doente

A) ombro normal B) ombro com capsulite adesiva

Capsulite adesiva ou ombro congelado?

Estes dois nomes são sinônimos para a mesma doença. A capsulite adesiva é um termo técnico e médico mas a mesma doença também é conhecida como ombro congelado, principalmente pelos seus sintomas. Como ocorre o enrijecimento da capsula articular e limitação dos movimentos do ombro, vulgarmente falando, parece que o ombro está congelado.

Sintomas e evolução

O curso clínico da capsulite adesiva consiste em três fases, sendo que o ciclo total de duração da doença pode durar de 12 a 36 meses. Entretanto, estudos demonstram que pacientes que procuram atenção médica assim que os sintomas aparecem, recuperam-se mais rapidamente.

  1. Primeira fase (inflamatória): o paciente apresenta dor difusa no ombro, de surgimento gradual e que progride durante semanas até meses. Frequentemente, a dor piora a noite.
  2. Segunda fase (congelamento): a dor diminui de intensidade, sendo mais comum na movimentação do ombro. O paciente descreve dificuldade com as atividades diárias por uma restrição na movimentação do ombro, não consegue pegar objetos em pratileiras altas, pegar uma carteira no bolso de trás da calça, prender o sutiã, entre outras. Esta fase dura de 4 a 12 meses.
  3. Terceira fase (descongelamento): Essa fase prolonga-se por semanas a meses e, com o retorno gradual da movimentação do ombro, a dor diminui.

evolução da capsulite adesiva

Muitas vezes, o retorno total da movimentação não é possível, embora muitos pacientes sintam subjetivamente algo próximo do normal. É exatamente por isso que sempre recomendamos a orientação de um médico ortopedista especialista em ombro, dessa forma você terá maior probabilidade de cura completa com menor tempo possível.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito principalmente pela história e exame clínico. Exames laboratoriais e de imagem muitas vezes não ajudam no diagnóstico, muito embora sejam sempre importantes para fechar o diagnóstico.

Apenas radiologistas experientes conseguem através de uma ressonância magnética identificar esta doença, identificando o processo inflamatório e o aumento da espessura da capsula articular.

Normalmente no laudo da ressonância aparece indicações como:

  • espessamento e edema pericapsular no recesso axilar
  • edema e espessamento capsuloligamentar glenoumeral no recesso axilar
  • espessamento e alteração de sinal da prega axilar, com tênue edema adjacente, associado a obliteração dos planos gordurosos subcoracóides, adjacente ao intervalo dos rotadores

Ressonância de capsulite adesiva

Capsulite adesiva na ressonância magnética

Capsulite adesiva na ressonância magnética

Infelizmente muitas vezes os pacientes ficam por meses tratando seu problema como tendinite ou bursite no ombro, quando o diagnóstico correto é de capsulite adesiva. Outras doenças que também podem causar limitação da movimentação são:

A Capsulite Adesiva tem cura?

Sim, a capsulite adesiva tem cura. A capsulite adesiva é uma doença autolimitada, ou seja, ela têm cura espontaneamente.

Entretanto, o diagnóstico e o tratamento precoces podem acelerar o curso natural da doença, o que pode ser especialmente útil se você é um indivíduo ativo ou atleta, mesmo amador.

A capsulite adesiva pode acometer o mesmo ombro mais de uma vez?

Em casos muito raros isso pode ocorrer mas não é comum o acometimento do mesmo ombro mais de uma vez, ou seja, de maneira geral não.

A capsulite adesiva pode acometer o ombro contralateral?

Sim, você pode ter ombro congelado no outro ombro. Cerca de 50% dos pacientes, meses ou anos após o primeiro episódio da capsulite adesiva tem um quadro semelhante no ombro contralateral.

Como é o tratamento do Ombro Congelado?

Felizmente, a capsulite adesiva, ombro congelado para alguns,  é uma doença com cura espontânea, mas isto não significa que não deve ser feito nenhum tratamento. Geralmente, o tratamento não cirúrgico é indicado inicialmente por 6 a 9 meses. Caso não haja progresso ou a condição clínica piore pode ser indicado a cirurgia.

Mais de 90% dos pacientes melhoram com o tratamento não cirúrgico.

Tratamento na fase inicial

Na fase inicial da doença (inflamatória), analgésicos, antiinflamatórios e compressas de gelo são a base do tratamento. Nesta fase, o paciente precisa mais do que tudo melhorar a dor e controlar a inflamação, enquanto alongamentos excessivos podem inclusive piorar os sintomas, aumentar o processo inflamatório e a duração da doença.

Antiinflamatórios para capsulite adesiva

Os antiinflamatórios não hormonais são utilizados na fase inicial da doença, ou seja, na fase inflamatória ou dolorosa, entretanto sua eficácia tem baixa evidência na literatura médica atual. São exemplos de antiinflamtórios não hormonais: diclofenaco, cetoprofeno, naproxeno, entre outros.

Por sua vez, os corticoides ou antiinflamatórios hormonais são mais efetivos e podem ser utilizados.  Estas medicações melhoram a dor dos pacientes especialmente a dor noturna e estão associados a melhora da função do ombro.

A utilização dos corticoides por via oral mais de 2 meses, não traz ganhos significativos e os riscos dos efeitos colaterais aumentam muito.  Uma alternativa muito interessante são os corticóides intramusculares como o betametasona. Uma única dose pode ter efeito por até 1 mês.

Analgésicos como o tramadol, a codeína ou paracetamol também podem ser utilizados para controle da dor.

Infiltrações no ombro

As infiltrações são injeções de medicamentos dentro das articulações e as infiltrações intra-articulares com corticoides são utilizadas a vários anos no tratamento do ombro congelado.

O número de infiltrações e as técnicas variam de médico para médico e a dose de corticoide empregada varia de 20 a 60 mg de Triancinolona. Vários estudos clínicos têm demonstrado a eficácia desta modalidade de tratamento na capsulite adesiva.

No Ombro congelado realizamos a infiltração, geralmente em ambiente hospitalar, sob sedação, e com controle do posicionamento correto da agulha na articulação com auxílio de ultrassom ou fluruoscopia.

O emprego de infiltrações com hialoronato de sódio (viscossuplementação) é recente. Apesar dos resultados muito animadores deste medicamento nos casos de artrose. Na capsulite adesiva, os resultados desta medicação não são superiores ao tratamento com os corticoides.

Infiltração no ombro

Infiltração no ombro

Tratamento na fase de rigidez

Na fase de rigidez da doença, exercícios para alongamento e ganho da movimentação passam a ser primordiais. O acompanhamento desses exercícios por um fisioterapeuta costuma evoluir com melhores resultados.

Fisioterapia

A fisioterapia é um dos tratamentos mais prescritos pelos ortopedistas para a capsulite adesiva. Ela tem papel importante na prevenção da redução da amplitude de movimento do ombro na fase de congelamento e no restabelecimento da movimentação do ombro na fase de descongelamento.

exercícios para capsulite adesiva

Muitos artigos científicos comprovam que exercícios de alongamento no limite da dor dos pacientes são benéficos. Exercícios realizados em casa também parecem fornecer resultados consistentes no tratamento da capsulite adesiva.

Tratamento fisioterápico na capsulite adesiva

Tratamento fisioterápico na capsulite adesiva

Também existe uma boa evidência para a eficácia da terapia a laser e do aquecimento profundo. Especialmente, se forem aplicados como adjuvantes a outras modalidades de tratamento, como as técnicas de mobilização ou programas de exercícios na fisioterapia.

Bloqueio do nervo supraescapular

O nervo supraescapular é responsável pela inervação sensitiva e da dor na região do ombro. O bloqueio ou infiltração com anestésicos no trajeto do nervo, em intervalos semanais, é preconizado por alguns cirurgiões ortopédicos.

Alguns estudos demostram resultados com melhora da dor em pacientes com ombro congelado. Este método de tratamento pode ser utilizado em casos refratários a outras terapias para controle da dor.

Bloqueio do nervo supraescapular para tratamento da capsulite adesiva

Bloqueio do nervo supraescapular para tratamento da capsulite adesiva

Uma pequena parcela dos pacientes, mesmo fazendo exaustivamente o tratamento fisioterápico não conseguem ganhar movimentação no ombro e são candidatos ao tratamento cirúrgico.

Como é a cirurgia para o ombro congelado e quando está indicado?

Quando a rigidez e a diminuição dos movimentos do ombro persistem, apesar do tratamento fisioterápico por um período prolongado, a cirurgia está indicada.

Importante salientar que a cirurgia só deve ser realizada quando o paciente já passou da fase inflamatória da doença. Quando os sintomas de dor já melhoraram e a principal queixa é a rigidez do ombro.

artrocospia do ombro para resolver capsulite adesiva

Quando indicado, o procedimento cirúrgico é realizado por uma técnica minimamente invasiva chamada artroscopia do ombro. Nesta técnica, a cápsula e outras estruturas espessadas e contraídas são visualizadas e liberadas. Com isto, o paciente tem um ganho imediato da movimentação.

capsulite_adesiva_tratamento_5

Após a cirurgia, porém, para evitar que a cápsula cicatrize de maneira contraída, uma boa fisioterapia torna-se necessária.

FAQ – Principais Perguntas Respondidas

O que é capsulite adesiva?

Capsulite Adesiva é uma doença caracterizada pela dor no ombro, especialmente a noite e perda progressiva da movimentação, sendo que ocorre mais frequentemente em mulheres. Ocorre por uma inflamação na capsula articular do ombro, com posterior enrijecimento da mesma com limitação dos movimentos do ombro.

O que é um ombro congelado?

O ombro congelado é o outro nome recebido pela capsulite adesiva. É uma doença caracterizada pela dor no ombro, especialmente a noite e perda progressiva da movimentação. Ocorre por uma inflamação na capsula articular do ombro, com posterior enrijecimento da mesma com limitação dos movimentos do ombro.

Quais os sintomas da capsulite adesiva?

Os sintomas da capsulite adesiva são: dor difusa no ombro, de surgimento gradual e que progride durante semanas até meses; dor noturna; dor pode irradia-se até as mãos; perda de movimentação, com dificuldade para vestir um sutiã, um casaco.

Quais os sintomas da síndrome do ombro congelado?

Os mesmos da capsulite adevisa já que são a mesma doença com nomes diferentes, ou seja: dor difusa no ombro, de surgimento gradual e que progride durante semanas até meses; dor noturna; dor pode irradia-se até as mãos; perda de movimentação, com dificuldade para vestir um sutiã, um casaco.

Como é o tratamento do Ombro Congelado?

Felizmente, a capsulite adesiva, ombro congelado para alguns,  é uma doença com cura espontânea, mas isto não significa que não deve ser feito nenhum tratamento. Geralmente, o tratamento não cirúrgico é indicado inicialmente por 6 a 9 meses. Caso não haja progresso ou a condição clínica piore pode ser indicado a cirurgia. Mais de 90% dos pacientes melhoram com o tratamento não cirúrgico.

30 respostas
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  1. Eliana Bacelar says:

    Oi Dr. Jorge,boa madrugada.Estou sofrendo demais com esse problema de capsulite.Li seu artigo, muito esclarecedor. Faço acompanhamento com ortopedista geral e agora fui encaminhada para um especialista em ombro.Todos os sintomas batem com o que foi explicado no texto.Os exames de ultrassom acusam ,bursite,tendinose e outras ites.tenho 67 anos e há 5 meses passei por uma cirurgia de revascularizaçao de miocárdio com a colocação de 4 pontes. As dores surgiram a pouco mais de 1 mês e é um terror. Dormir tornou-se artigo de luxo.Faço uso de gabapentina,paratran e as vezes tilex.Fisioterapia intensiva e Acupuntura. Por favor me oriente. A noite a dor só alivia com gelo. Desculpe o texto.um abraço.

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  2. Elis says:

    Fui diagnosticada com Capsulite adesiva há quase 10 meses,faço fisioterapia,fiz infiltração,tomei antiinflamatorio mas nada tira minha dor,principalmente a noite.

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  3. Lais says:

    Dr. estou desde Agosto passando por isso,já fiz 18 seções de fisioterapia, o meu médico quer fazer bloqueio do nervo,estou numa guerra com o plano de saúde que nãoquer liberar o material. Se fizer dará um resultado satisfatório?

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  4. Marcelo Machado says:

    Parabéns pela esclarecedora apresentação do problema e das opções disponíveis para o tratamento… Sou diabético tipo 1 desde os 10 anos de idade e já havia desenvolvido no ombro esquerdo, que conforme o descritivo acima acabou se curando praticamente sozinho após 3 anos desde a percepção inicial.
    Tenho lido muito recentemente, pois como agora tive no ombro direito, afetando mais significativamente minha mobilidade, me encontro na fase da fisioterapia intensiva acompanhado por fisioterapeuta especializado, onde tenho sentido dores muito fortes e como da primeira vez, comecei a ficar cético em relação ao tratamento. imaginando que a dor era sinal de erro no diagnóstico ou nos procedimentos adotados.
    Mas ficou bastante claro que, para reduzir o longo prazo de recuperação natural de acordo com o primeiro evento (36 meses), enfrentar a dor deve ser tentado… “Muitos artigos científicos comprovam que exercícios de alongamento no limite da dor dos pacientes são benéficos”.
    Faço uma hora de fisioterapia pela manhã, iniciando com manta térmica para aquecimento do ombro, seguido de alongamento passivo no limite da dor (feito pelo fisioterapeuta) e concluído com os exercícios exemplificados nesse artigo. De noite eu vou para a piscina e faço caminhada, agachando a cada 3 passos e fazendo o movimento do nado peito por meia hora, e caminhando de costas fazendo uma remada por mais meia hora.
    O ganho de amplitude de movimentação foi expressivo, mas a dor é sempre muito forte mesmo, tendo eu já utilizado até Restiva 10mg para suportar, visto que corticoides não são bons devido ser diabético (é realmente muito ruim… tomei betametasona e fiquei 30 dias com o controle super oscilante).
    Fico aberto para dicas, troca de experiências e demais informações e faço uso deste espaço para motivar aqueles que estão em situação semelhante a persistir enfrentando a dor evitando a cirurgia, que nunca é a escolha mais indicada principalmente em diabéticos…
    Abraços

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